Por que os nossos ídolos cometem suicídio?

1 julho 21, 2017

No dia 20/07/2017 mais um ídolo foi “encontrado morto”. Dessa vez, o cantor Chester Bennington da banda americana Linkin Park deixou parentes, amigos e uma legião de fãs chocados com essa notícia. Aqui, no Brasil, temos vários artistas que cometeram suicídio e um número alarmante de pessoas que não são famosas que cometem todos os dias. Por que as pessoas ainda tem dificuldade de falar sobre esse assunto?

Os números oficiais mostram que 32 brasileiros morrem por dia vítimas do suicídio, matando mais do que a Aids e alguns tipos de câncer. São números epidêmicos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o suicídio é responsável por uma morte a cada 40 segundos no mundo e mesmo com esse dado alarmante apenas 28 países incluíram em suas prioridades de saúde uma estratégia nacional para diminuir esses índices.

Ilusoriamente as pessoas acreditam que sucesso, fama e dinheiro trazem a felicidade, porém não levam em consideração que os transtornos mentais são doenças que podem acontecer com qualquer pessoa independente das suas condições. Às vezes a fama e o dinheiro podem, inclusive, estimular um vazio. Se internamente a pessoa não consegue lidar com seus traumas e com suas questões internas, ela corre o risco de adoecer psiquicamente.

Segundo o próprio cantor em uma entrevista para a revista Kerrang, ele foi molestado aos 7 anos de idade: “Sempre lembro de quando era pequeno, desse episódio terrível e das coisas ruins que aconteceram comigo”. Há muito tempo, ele também lutava contra a dependência química.

A arte tem o poder de expressar todo o mundo interno do artista. Em seu último álbum pode-se observar a melancolia e o sofrimento impresso na letra das músicas. Já no título podemos perceber: “Nobody can save me” (Ninguém pode me salvar), “Invisible” (Invisível), “Good godbye” (Boa despedida), etc. Outros artistas também seguem esse padrão, com músicas, cartas ou situações que sirvam como “despedida”. A maioria dos suicidas sempre procuram uma forma de pedir socorro, talvez eles apenas não estão sendo ouvidos.

As pessoas falam sobre suicídio como coragem ou fraqueza baseado no senso comum, colocando juízo de valor em um comportamento adoecido. Deve-se entender que o suicídio é parte de uma doença e precisa ser tratado. Existem fatores de risco que mostram os comportamentos de um suicida em potencial que devem ter a atenção de todos, pois muitos suicidas só conseguem acesso ao tratamento a partir da ajuda de familiares ou amigos.

Alguns fatores de risco:

-comunicação prévia da intenção de se matar;

-mensagem ou carta de despedida;

-providência finais (p.ex., conta bancária, testamento) antes do ato;

-planejamento detalhado;

-precauções para que o ato não fosse descoberto;

-ausência de pessoas por perto que pudessem socorrer;

-não procurou ajuda logo após a tentativa de suicídio;

-fácil acesso a método violento (p.ex., enforcamento, arma de fogo);

-afirmação de que queria morrer;

-indicativos de repetição de tentativa de suicídio;

-história previa de hospitalização por autoagressões;

-tratamento psiquiátrico anterior;

-alcoolismo/drogadição;

-isolamento social.

Sabemos que 97% dos suicídios são marcados pela existência de um transtorno mental (BOTEGA, 2010). E que 9 em cada 10 casos o suicídio poderia ser evitado com um tratamento especializado. Assim como Chester, milhares de outras pessoas estão pedindo socorro ao nosso redor. Precisamos falar sobre isso, precisamos expor nossas dores e frustrações e principalmente procurar ajuda especializada. Sempre existe uma esperança quando se está vivo.

Comments (1)
CatherineJuly 21Reply
Uma vez eu li que suicidas não querem morrer, só querem acabar com o tormento. Ótimo texto, esse é o momento de transformar uma tragédia em atitudes positivas.

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