Cura Gay: O projeto adoecido embasado no preconceito

setembro 19, 2017

Um juiz concedeu a uma psicóloga uma liminar que abre brecha ao projeto do intitulado “terapia de reorientação sexual”. Quem acompanha a raiz desse processo sabe que é um dos nomes da “cura-gay”, apesar de ser ampliado para a reorientação também de heterossexuais.

Vamos pensar sobre o conceito de cura. Os profissionais da saúde mental sempre tiveram muito cuidado em utilizar essa palavra por conta dos diferentes significados e entendimentos que ela pode ter para cada pessoa. Acredita-se que a cura seria “reverter a um estado antes da doença” ou “ expurgar o mal por completo” ou “ um estado de total saúde”. Todas as terminologias apresentam grandes falhas e cada vez que tentamos explica-las percebemos que esse termo não explica com exatidão o que podemos esperar de uma terapia. A cura gay relaciona a homossexualidade a uma doença que precisa ser expurgada.

A teoria das pulsões de Freud afirma que todos os seres humanos tem uma predisposição à bissexualidade. Não existe naturalismo na sexualidade humana. O biólogo e sexólogo Kinsey foi um dos maiores teóricos a realizar pesquisas com seres humanos para entender a sua sexualidade e concluiu que a sexualidade é múltipla e varia entre a homossexualidade, bissexualidade e heterossexualidade ao longo da sua vida. Essas duas figuras de maior referência nos estudos da sexualidade humana mostram que seria impossível expurgar a homossexualidade dos seres humanos. Será que existe uma forma de um individuo que tem desejos por alguém do mesmo sexo não ser homossexual?

Em consultório e no dia a dia entro em contato com diversos casos de homossexuais ou bissexuais que reprimem seus desejos em prol dos desejos dos outros. O mecanismo psíquico complexo consegue se moldar para reprimir os seus desejos. É possível que uma pessoa consiga reprimir seus desejos durante toda a vida. Essa repressão é tão forte que a pessoa pode nem ter consciência de sua sexualidade, ou ter consciência e sofrer muito, ou ter consciência e não se aceitar, montando laços falsos para poder fortificar sua máscara social, ocasionando um sofrimento em si e em outras pessoas.
Perde todo mundo! Em uma sociedade heteronormativa isso acontece em grande escala e em vários setores. O que muda é o fato de que teremos muito mais pessoas adoecidas. Uma pessoa que reprime seus desejos estimula a manutenção de outros sintomas e podem estruturar um transtorno mental. Por isso atendemos tantas pessoas insatisfeitas sexualmente ou que sentem que “falta algo” em sua vida. As pessoas não precisariam mentir, se esconder ou se reprimir se fôssemos uma sociedade mais saudável.

A psicologia não conseguiria controlar a pulsão sexual de alguém, mas conseguiria ajudar uma pessoa a controlar um comportamento para enganar a si mesmo e os outros. Mas será que isso é ético? Será que um profissional que ajuda uma pessoa a ser reprimida, sabendo de todas as consequências que isso pode ter na saúde de seu paciente e da sociedade, trabalha em prol da saúde mental?

A liberdade sexual incomoda no outro porque não é aceita em si mesmo. Esse direito de retirar a sexualidade do outro é um direito que não concerne a ninguém, principalmente à psicologia que luta pela liberdade e pela saúde mental da sociedade. O movimento homofóbico, intrínseco a esse pensamento, apenas aponta para uma das consequências de uma possível homossexualidade não reconhecida em si mesmo. Neste ponto podemos afirmar que quem deve ser curado são as pessoas que estão querendo a “cura gay”, pois elas devem estar sofrendo muito para fazer tanto esforço em querer direitos sobre a sexualidade de outros.

Esse caso apenas fortificou o movimento LGBT. Já existe uma corrente de apoio nas redes sociais. Os profissionais da saúde mental estão produzindo ainda mais saber para ajudar a esclarecer as pessoas em relação a seus preconceitos e a relação com sua a sexualidade. É muito bom que essas sombras sociais emerjam, pois só assim a luz do conhecimento vai poder expurgá-las de uma vez por todas. Precisamos fazer a nossa parte para acabar com esse câncer social que só gera mais vítimas adoecidas pelo seu ódio, repressão ou preconceito.

A medicina e a psicologia não entendem a homossexualidade como doença. Segundo a resolução 001/1999 do Conselho Federal de Psicologia, ‘os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados’. “Os psicólogos não exercerão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades”. O pensamento que considera a homossexualidade como doença não é compartilhado pelos profissionais éticos da saúde mental. A Clínica Fenix se posiciona contra a Cura Gay. #nãoexistecuragay #maissaber #maisamor #diganaoahomofobia

Abaixo uma orientação de como vocês podem denunciar algum psicólogo que esteja com uma conduta antiética.

http://www.crpsp.org.br/portal/orientacao/representacao.aspx

Além de um abaixo assinado para uma petição pública contra essa liminar da “Cura Gay”:

http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR101981

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