Baleia azul: você está jogando e não sabe!

maio 19, 2017

Implicação

Lado B – Baleia azul: você está jogando e não sabe!

O jogo Baleia azul consiste em uma serie de missões que os participantes devem seguir que são dadas por uma pessoa anônima e que resultam no suicídio dos jogadores. A preocupação com o jogo aumentou no ano passado, quando diversas fontes divulgaram, sem confirmação, 130 suicídios supostamente vinculados a comunidades virtuais identificadas como “grupos da morte”. Diversos países, como a Inglaterra, França e Romênia têm enviado alertas aos pais depois que adolescentes apareceram com cortes nos braços e sinais de mutilação.

Em março de 2017 o jogo ganhou maior visibilidade no Brasil quando uma adolescente de 16 anos foi achada morta dentro de uma represa no pequeno município de Vila Rica (Mato Grosso). Ela deixou para trás indícios sobre o jogo como as tarefas, cronogramas e regras de participação.

Provavelmente todo mundo já ouviu falar sobre este jogo por conta da visibilidade que a mídia trouxe para esse devido ao grande interesse do público pelo tema. Porém como todo o assunto que é divulgado de forma intensa acaba tendo seu prazo de validade, hoje, passados um pouco mais de um mês que foi disseminado, já não se ouve mais falar dele. Todos fazem parte desse ciclo que vai do interesse total ao total desinteresse sobre um tema específico que a mídia aborda.

A superficialidade esta matando as pessoas. Este jogo é apenas a ponta do iceberg que mostra para sociedade um problema maior e mais grave: o adoecimento juvenil. Como muita coisa na sociedade, ficou-se na superficialidade, utilizando este tema como bode expiatório, causador de todo o mal. Mas será que esse jogo não é um sintoma de um organismo adoecido?

Quando pensamos que a depressão e o suicídio são o “mal do século” e o aumento das taxas entre transtorno mental e suicídio na sociedade estão cada vez maiores não podemos reduzir o assunto ao tempo da sua divulgação na mídia e achar que tudo se resolveu apenas com a prisão do culpado.

A falta de saber e o preconceito são os piores inimigos na luta contra esse processo. Existem poucas políticas de promoção de saúde mental onde as pessoas desconstruam o preconceito, aprendem a identificar os sintomas e a encaminhar seus familiares à clínicas especializadas. Ainda hoje as pessoas acreditam que ir ao psicólogo e ao psiquiatra é coisa de “maluco” e com isso vão “tapando o sol com a peneira”. Os pais quando percebem os primeiros sintomas no filho, acreditam que é falta de vitaminas, orientam que eles saiam mais de casa ou até mesmo se cegam aos indícios resultando em um transtorno maior e até mesmo em um suicídio.

As pessoas têm a tendência a procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica quando os sintomas já estão graves, quando o transtorno já bagunçou tanto a sua vida que já não conseguem fazer mais nada. Se as pessoas apresentam essa dificuldade em identificar o problema em si, com outros será mais difícil ainda. Assim como qualquer outra doença, os transtornos mentais quando tratados de forma precoce apresenta um prognóstico muito melhor.

A negligência sobre a importância de falar sobre a saúde mental inicia-se na dificuldade que cada um tem em trabalhar questões individuais. A falta de autoconhecimento unida ao preconceito em relação à saúde mental e a falta de politicas públicas estimula o aumento epidêmico dos índices de pessoas com transtorno mental que segundo a OMS (Organização Mundial de saúde) já coloca o Brasil como o país com maior incidência de transtorno de ansiedade e depressão da América Latina. Ainda segundo a OMS, 9 em cada 10 casos poderiam ser prevenidos se tratados por profissional especializado.

Esse jogo social de negligência, de falta de informação e preconceito é repetido várias e várias vezes. O organismo social adoecido às vezes apresenta uma febre que vem das formas mais variadas para chamar atenção de todos que algo precisa ser feito diferente. A sociedade está carente de políticas públicas que eduquem a população em relação à sua saúde mental. Precisamos falar sobre isso nas escolas, nos jornais, nas empresas, não apenas quando assistimos uma matéria na televisão. A OMS afirma que 32 brasileiros morrem de suicídio por dia e que esses números tendem a crescer. A implicação acontece quando se percebe que o maior aliado ou o pior inimigo está dentro de cada um, depende da forma como você se relaciona com seu mundo interior.

Você deseja parar de jogar ou quer continuar?

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